Já nem sei quanto tempo vaguei perdido em miséria, na chuva e na fome... Comendo restos!
Então ela me encontrou um flagelo, sim, mas embora suas mãos hesitassem, seus olhos me acolheram. Apesar de tudo, ela me levou consigo.
Banhou-me, curou-me as feridas, com paciência, livrou-me das pragas que consumiam meu corpo. Alimentou-me. Sem vergonha ou asco. Eu nunca pensei que existissem humanos assim.
Balthazar é meu nome. Por ela vivo e sou grato.
Um dia ela sai, afaga-me. Volta muito tarde. Os olhos úmidos e com semblante triste. Eu corro para saudá-la!
[- Oh Balthazar, por que as coisas sempre têm de ser cruéis?]
[- Nasci para você Lenore! Deste-me a vida quando ela já estava fugindo de mim!]
Ela não entende, dá-me boa noite e vai preparar um banho. Deito-me perto da porta do banheiro e ouço soluços abafados... Espio pela porta semi cerrada.
[- O que ela está fazendo? O que é aquilo que a está ferindo e por que não pára? ]
Vejo sua mão pousar debilmente no chão. O soluço vai diminuindo e seu amor esvaindo-se em gotas pelo seu pulso.
[- Não! Recuso-me a te deixar morrer. Vamos! ]
Empurro sua mão e ela me retorna um sorriso fraco, quase sem vida.
[- Minha dama da chuva, não morra. Eu imploro! Está tudo tão errado. Esperei tanto por ti... Tanto... Para que fosses minha! ]Pego o punhal e cravo-o em meu peito. Uno meu sangue ao de Lenore. Um vulto que a carrega é tudo que ela vê.
Ela dorme.
Velo seus sonhos febris e em meio aos seus delírios vejo-a, perdida em discórdia e desespero.
Ao longe uivos são trazidos pelo vento. Eu apenas a observo.
[- Quem é você? Por que não me deixa morrer?]Sou nada mais que uma sombra para ela.
[- Deixe-me apenas vê-lo!]
[- Ah Lenore... Rasgo minha pele para salvar-te.Sangro meu coração para que nosso amor a desperte... Lenore, jamais poderia perder-te novamente! ]
[- Mas quem é você?][- Já não sou uma sombra... Sou Balthazar... Seu e único!]
Tomo-a nos braços.
[- Nosso tempo aqui acabou!]
Rasgo meu peito novamente.
[- Tomai e sejais minha como a ti pertenço. Enquanto amar-me, manterei esta ferida aberta, fluindo, para que se alimente de mim. Para que sejas parte de mim...]
Ávida, Lenore bebe do meu sangue... Livres, somos noite.
E ela dorme!
Este foi meu primeiro texto roteirizado e publicado.
Revista: Café Espacial #2 {Maio/2008}
Desenhos: Laudo Ferreira Jr.
imagem: Orca, a loba.
5 comentários:
aeeee Bárbara...
legal reler Amore Lupus na versão não quadrinhos.
quero ler mais textos... =^^=
bom findi!
Muito bom Barbara,
adoreiiiiii. Voce nos surpreende a cada dia hein? Parabens.
VC sabe que eu tambem escrevo, por tanto, entendo um pouquinho desse teu Dom! Êsse texto é triste mas antes, é muito mais lindo! Emocionante! Surpreendente!
AryMathéia
Aonde podemos votar para a revista ser premiada?
Bjs
Ag
Que criatividade!
Quanto sentimento!
Adorei! Triste, mas lindo!
O final é diferente do final do hq publicado, né? Não achei que a narrativa fluísse tão bem lida fora das ilustrações, mas é tão boa quanto, ganha uma dimensão diferente... muito bom, vai escrever mais pra hq? bjs.
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