sábado, junho 14, 2008

Amore Lupus {by .Bárbara Stracke.}









Já nem sei quanto tempo vaguei perdido em miséria, na chuva e na fome... Comendo restos!




Então ela me encontrou um flagelo, sim, mas embora suas mãos hesitassem, seus olhos me acolheram. Apesar de tudo, ela me levou consigo.




Banhou-me, curou-me as feridas, com paciência, livrou-me das pragas que consumiam meu corpo. Alimentou-me. Sem vergonha ou asco. Eu nunca pensei que existissem humanos assim.







Balthazar é meu nome. Por ela vivo e sou grato.





Um dia ela sai, afaga-me. Volta muito tarde. Os olhos úmidos e com semblante triste. Eu corro para saudá-la!




[- Oh Balthazar, por que as coisas sempre têm de ser cruéis?]




[- Nasci para você Lenore! Deste-me a vida quando ela já estava fugindo de mim!]







Ela não entende, dá-me boa noite e vai preparar um banho. Deito-me perto da porta do banheiro e ouço soluços abafados... Espio pela porta semi cerrada.

[- O que ela está fazendo? O que é aquilo que a está ferindo e por que não pára? ]



Vejo sua mão pousar debilmente no chão. O soluço vai diminuindo e seu amor esvaindo-se em gotas pelo seu pulso.




[- Não! Recuso-me a te deixar morrer. Vamos! ]




Empurro sua mão e ela me retorna um sorriso fraco, quase sem vida.

[- Minha dama da chuva, não morra. Eu imploro! Está tudo tão errado. Esperei tanto por ti... Tanto... Para que fosses minha! ]


Pego o punhal e cravo-o em meu peito. Uno meu sangue ao de Lenore. Um vulto que a carrega é tudo que ela vê.




Ela dorme.





Velo seus sonhos febris e em meio aos seus delírios vejo-a, perdida em discórdia e desespero.




Ao longe uivos são trazidos pelo vento. Eu apenas a observo.

[- Quem é você? Por que não me deixa morrer?]


Sou nada mais que uma sombra para ela.




[- Deixe-me apenas vê-lo!]




[- Ah Lenore... Rasgo minha pele para salvar-te.Sangro meu coração para que nosso amor a desperte... Lenore, jamais poderia perder-te novamente! ]

[- Mas quem é você?]


[- Já não sou uma sombra... Sou Balthazar... Seu e único!]




Tomo-a nos braços.




[- Nosso tempo aqui acabou!]




Rasgo meu peito novamente.







[- Tomai e sejais minha como a ti pertenço. Enquanto amar-me, manterei esta ferida aberta, fluindo, para que se alimente de mim. Para que sejas parte de mim...]




Ávida, Lenore bebe do meu sangue... Livres, somos noite.




E ela dorme!




Este foi meu primeiro texto roteirizado e publicado.

Revista: Café Espacial #2 {Maio/2008}


Desenhos: Laudo Ferreira Jr.



imagem: Orca, a loba.








5 comentários:

Anônimo disse...

aeeee Bárbara...
legal reler Amore Lupus na versão não quadrinhos.
quero ler mais textos... =^^=
bom findi!

Anônimo disse...

Muito bom Barbara,
adoreiiiiii. Voce nos surpreende a cada dia hein? Parabens.
VC sabe que eu tambem escrevo, por tanto, entendo um pouquinho desse teu Dom! Êsse texto é triste mas antes, é muito mais lindo! Emocionante! Surpreendente!

AryMathéia

Anônimo disse...

Aonde podemos votar para a revista ser premiada?
Bjs
Ag

Belcrivelli disse...

Que criatividade!
Quanto sentimento!
Adorei! Triste, mas lindo!

fab disse...

O final é diferente do final do hq publicado, né? Não achei que a narrativa fluísse tão bem lida fora das ilustrações, mas é tão boa quanto, ganha uma dimensão diferente... muito bom, vai escrever mais pra hq? bjs.